O Engano do “Dinheiro Fácil
É quase unânime a crença de que os dividendos são a chave para a independência financeira, aclamados como a tão sonhada “renda passiva“. Quem nunca ouviu alguém dizer: “Com dividendos, o dinheiro trabalha para você“? Mas, e se eu dissesse que isso é uma grande ilusão? Na prática, o que está acontecendo não é a criação de riqueza, mas apenas a redistribuição do que já é seu.
Imagine o seguinte: você compra uma ação por R$ 20,00 e a empresa anuncia o pagamento de R$ 1,00 em dividendos. No dia seguinte, a ação ajusta automaticamente para R$ 19,00. E aí, você ganhou algo? Na verdade, não. O dinheiro só mudou de lugar: saiu da sua ação e foi para a sua conta. A maioria das pessoas acreditam que tem os R$ 20,00 mais R$ 1,00 que caiu, ou “pingou” no conta. A ilusão da chamada “vaca leiteira”.
Ah, e antes que você pense que isso é opinião ou achismo: não é. Essa é a regra dos dividendos, definida por normas contábeis, fiscais e de mercado. Então sem mimimi…
Está surpreso? Não se preocupe, 99% das pessoas também ficam, já que o mercado adora vender os dividendos como uma mágica financeira. Mas por que isso acontece? E, mais importante, por que ninguém fala disso? Vamos desvendar o que realmente ocorre e expor as verdades escondidas sobre os dividendos.
Conceitos básicos
Vamos iniciar com alguns conceitos básicos para facilitar o entendimento. Claro que, aqui, vou explicar de forma não técnica e muito simplificado, tudo bem?
O Que é uma Empresa S.A.?
Uma empresa S.A. (Sociedade Anônima) é uma entidade cujo capital é dividido em ações, que podem ser adquiridas por investidores. Ao comprar uma ação, a pessoa se torna sócio dessa empresa, ou seja, possui uma parte proporcional dela.
Essas empresas têm a opção de listar suas ações na Bolsa de Valores. Assim, qualquer pessoa pode comprar uma participação no negócio, mesmo que seja uma fração minúscula. Tranquilo, não é?
O Que é a Bolsa de Valores?
A Bolsa de Valores é como um grande mercado onde ações de empresas são negociadas. É lá que investidores compram e vendem essas participações. Portanto, quando uma empresa decide abrir seu capital na bolsa, ela capta recursos para crescer e, em troca, compartilha lucros com os acionistas, muitas vezes na forma de dividendos. Olha os dividendos aqui!
O Que São Dividendos?
Dividendos são partes do lucro de uma empresa distribuídas aos acionistas. Parece maravilhoso, não é? Mas, calma lá! É essencial entender que esse pagamento não cria riqueza nova. Ele simplesmente transfere dinheiro da conta da empresa para os acionistas, reduzindo o valor do Patrimônio da companhia. Se reduz o Patrimônio da Empresa e as ações são proporcionais ao Patrimônio, logo o valor da ação reduz. É lógico e matemático.
Ex-dividendo
Em termos simples, ex-dividendo, é o termo utilizado para indicar a data em que uma ação começa a ser negociada sem o direito de receber o dividendo anunciado pela empresa. Ou seja, quem compra uma ação na data ex-dividendo (ou após essa data) não tem direito ao pagamento do dividendo. Assim, o direito ao dividendo é concedido apenas àqueles que possuem as ações no dia anterior à data ex-dividendo, também chamada de data de corte. Tudo bem até aqui?
Como funciona o ajuste no preço da ação
Lembra do exemplo inicial? Alguém comprou uma ação por R$ 20,00, e a empresa anunciou um dividendo de R$ 1,00. No dia seguinte à data ex-dividendo, a ação ajusta automaticamente para R$ 19,00.
E como isso funciona na prática? A empresa gerou lucro e decidiu, conforme seu estatuto, distribuir 25% em forma de dividendos, por exemplo. Ela informa ao mercado uma data: quem tiver ações até esse dia terá direito a receber os dividendos. Depois disso, na data ex-dividendo, quem comprar a ação não terá direito a essa distribuição. Posteriormente, a empresa paga os dividendos na data anunciada.
E Qual é a Situação do Acionista?
Antes da data ex-dividendo, o acionista tinha uma ação cotada a R$ 20,00. Após o fechamento do mercado, o preço ajusta para R$ 19,00, refletindo o pagamento de R$ 1,00 em dividendos. E, na data de pagamento, o acionista recebe R$ 1,00 na conta.
Resultado? O patrimônio da pessoa continua exatamente igual: antes, tinha R$ 20,00 em ações. Agora, tem R$ 19,00 em ações e R$ 1,00 no bolso (na conta). No total, os mesmos R$ 20,00 em patrimônio, e não R$ 21,00, como muita gente imagina. R$ 1,00 não surgiu do nada, saiu do preço da ação.
Desta forma, quando a empresa paga dividendos, ela está distribuindo uma parte de seu caixa ou lucros aos acionistas. Isso reduz o montante de recursos disponíveis na empresa, o que, tecnicamente, resulta em uma diminuição no valor de mercado da companhia (Patrimônio Líquido), uma vez que ela fica com menos capital circulando. Esse efeito, portanto, impacta diretamente o preço da ação.
Mercado de Derivativos (Opções)
Para não ter mais dúvidas, uma vez entendido o termo ex-dividendo e os ajustes nas ações, também é possível, notar este ajuste nas Opções (Derivativos), negociados na B3.
Aqui o tema é complexo e exige muito aprofundamento, então caso não conheça sobre derivativos, entenda que a lógica é a mesma. Então, vou colocar de maneira simplificada, tudo bem?
Toda opção possui um Strike (preço de exercício), ou seja, o valor pelo qual o comprador da opção pode comprar ou vender o ativo-objeto.
O ajuste do preço de exercício de uma opção (Strike) ocorre para manter a paridade entre a opção e o preço da ação subjacente, ou seja, para evitar que o detentor da opção seja favorecido ou prejudicado pela mudança no preço da ação em decorrência do pagamento do dividendo.
Abaixo segue um exemplo de Oficio Circular (da B3) divulgado em 25/05/2023 das posições de opções sobre PETR3 e PETR4 (Código das ações Ordinárias e Preferenciais da Petrobrás) e do Manual de Procedimentos Operacionais da Câmara B3. Os mesmo podem ser consultados e estudados no site da B3, tudo bem?



A verdade sobre os Dividendos: Redistribuição e não criação de riqueza
Agora que você já conheceu como funciona o tema dos dividendos, a primeira coisa que você precisa entender sobre dividendos é que eles não representam um “extra” no seu patrimônio. A ideia de que o dinheiro está “trabalhando para você” soa linda, mas é uma interpretação equivocada.
Quando uma empresa paga dividendos, ela está apenas redistribuindo parte dos lucros. Isso significa que o valor que sai da empresa e vai para a conta não é algo que “nasceu do nada”. Pelo contrário, é uma fração do valor que antes estava incorporado no preço da ação.
Após a data ex-dividendo, o valor da ação pode subir ou cair. É um novo dia como outro qualquer. Se o mercado reagir bem ou mal ao anuncio do dividendo é outra coisa. O fato é que o valor a ser pago em forma de dividendo sai do valor da ação no dia seguinte (já abre com o valor ajustado, querendo ou não) e, portanto, este valor de dividendo não foi criado do nada como uma “vaca leiteira” caindo valor da conta. Simplesmente é como um saque de valor forçado. Lembrando que isso é regra e não opinião. Funciona assim. Tudo bem?
Por que isso não é falado?
O mercado financeiro evita tratar esse ponto com clareza porque a palavra “dividendos” tem apelo. Ela carrega a promessa de dinheiro “caindo na conta” sem esforço. Quem não quer isso? É um conceito perfeito para atrair investidores, especialmente os menos experientes e informados. De forma geral, a função do mercado é tirar o seu dinheiro e transferir para ele. Portanto, quanto menos pessoas com conhecimento, melhor.
No entanto, a verdade é simples: dividendos não aumentam a riqueza líquida. Eles apenas trocam de lugar: o que estava investido na empresa passa a estar na sua conta.
É como trocar o dinheiro do bolso da calça. Você tem R$ 20,00 no bolso direto. E num passe de mágica, fica com R$ 19,00 no bolso direito e R$ 1,00 no bolso esquerdo.
Outro ponto importante e que merece muita atenção.
Antes do pagamento dos dividendos, a pessoa tinha R$ 20,00 investido na empresa. Após o pagamento dos dividendos, tem apenas R$ 19,00, ou seja, tem menos dinheiro trabalhando para acumular. Se não reinvestir os dividendos pagos, com o passar do tempo tende a ter cada vez menos valor acumulado.
Claro que a empresa, também tende, com a tempo, a se valorizar, faturar mais, repassar a inflação nos produtos e serviços, vender mais, ter mais lucros, e isso passa despercebido. Então, se isso ocorre com a ação valendo R$ 19,00, poderia seria melhor ainda com a ação valendo R$ 20,00.
Por isso, do ponto de vista técnico e financeiro, não é natural, no período de acumulação de capital, receber dividendos e gastar, e sim deveria reinvestir para acumular. Esse é o principal motivo da falácia da “vaca leiteira”, uma vez que a pessoa começa a vida de investidor e acha uma maravilha receber dividendos, ou seja, está deixando de acumular no período de acumulação. Ainda mais achando que está “brotando” algum valor. Ficou claro?
A solução: Conhecimento sobre finanças
Antes de se deixar levar pelo encanto do mercado financeiro e, neste caso, dos dividendos, é fundamental entender o contexto e avaliar suas opções. Nem sempre receber dividendos significa que você está fazendo o melhor negócio. Às vezes, o crescimento sustentável da empresa e o aumento do valor das ações no longo prazo podem ser mais vantajosos.
Então, da próxima vez que alguém prometer “renda passiva mágica” com dividendos, lembre-se: não existe almoço grátis no mercado financeiro. Tudo é questão de redistribuição e estratégia.
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